sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Coisas........................!!!!!!!!!!

Dou valor ao diálogo, às palavras, acho que nos faz bem falar e saber ouvir, nunca menosprezando o que nos transmitem, mas independentemente das palavras que se utilizam, da mensagem que se quer passar, é impressionante a diferença entre as pessoas. Podemos conversar com pessoas de diferentes formas que parece que nunca vão entender, até podem concordar, mas rapidamente chegamos à estranha conclusão que parece que falamos dialectos diferentes, no lado oposto há aquele número restrito de pessoas (muitíssimo restrito mesmo) que praticamente não se precisa dizer nada, é quase instantâneo, transmissão de pensamento, chamem-lhe o que quiserem (pudesse chamar muita coisa) deixo ao vosso critério.



Uma coisa é certa, fazem-me esquecer o cansaço e a desmotivação que nos provocam aquelas pessoas, que nunca entendem o que dizemos, e ao mesmo tempo fazem. me acreditar que esta é a rota certa.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

O NOSSO PORTUGAL

Tenho um quadrado de cimento em que me deito,
Não há lugar para um futuro tão estreito,
Sigo o asfalto, lá do alto do meu prédio
Tenho pr’a mim que a tentação não tem remédio.

E se me mato, se me trato em directo,
Abro o jornal, qualquer canal, sou predilecto,
E na TV, no DVD, fazem-me estrela,
Ontem ninguém, hoje, quem sabe, uma novela.

Tanto barulho, tanto engulho no deserto,
Está aqui escrito que este plano bate certo,
Mato o juíz, mato a perdiz, mato o sobreiro
Com um só tiro, mas um tiro bem certeiro.

Diz quanto custa à minha custa o teu perdão,
Um carro novo com motor de foguetão,
Uma vivenda, uma merenda a vida inteira
Fazer Domingo de Segunda a Sexta-feira.

Eu não sei onde é a saída,
Se é no beco ou na avenida.
Ai, País, País é um problema, vive
Entre o dealer e o dilema,
Entre a sesta e o sistema.

Tenho um petardo lá na cave do anexo,
Vem nos jornais que sou um gajo complexo,
No futebol talvez o leve pr’a tribuna,
Não há lugar onde o país mais se desuna.

Sou visionário ao contrário do que se pensa,
Ter tantos cargos faz a vida tão intensa,
Entre a medalha, e a canalha nunca vai,
Se é de madeira esta cadeira um dia cai.

Tenho a certeza que à mesa sou honesto,
Um envelope no decote compra o resto,
Um escadote para subir até ao fundo,
Lugar cativo lá no céu do outro mundo.

Quero uma estátua de prata à minha porta,
Que a redenção é coisa que não me importa,
Quero um cavalo, quero um trono onde me sente
Se não sou rei, porque não ser presidente?

Eu não sei onde é a saída,
Se é no beco ou na avenida.
Ai, País, País é um problema,
Vive entre o
Dealer e o dilema,
Entre a sesta e o sistema.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Afinidade

Dos textos mais elucidativos que li ultimamente, responde a muitas questões e explica aquelas coisitas que nos ultrapassam... Por isso nao poderia deixar de partilhar:

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.

Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação,o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.

É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.

Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos
 fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.

Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Só entra em relação rica e saudável com o outro,quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar,
não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita
o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.

A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar,
por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos,veremos ou falaremos.

A afinidade é singular, discreta e independente,
porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu
o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação
exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas
nem pelas pessoas que as tem.

Por prescindir do tempo e ser a ele superior,
a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades
ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós,
para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau,
porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.


Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois
encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir
restituir o clima afetivo de antes,
é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta,
ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas,
plantios de resultado diverso.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças,
é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quantos das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou,
sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais,
a expressão do outro sob a forma ampliada e
refletida do eu individual aprimorado.

Texto de:
Arthur de Távola